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Crime não é acidente: é preciso punir, mas com consciência e cautela

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

A estreia do Corinthians na Libertadores gerou um fato terrível. O jogo foi o de menos: empate de 1 a 1 com clara superioridade técnica do Timão, somado às falhas incríveis de Emerson e cansaço acima do normal dos atletas (uma das consequências da altitude de Oruro).

Acontece que no intervalo um jovem boliviano de 14 anos foi atingido por um sinalizador arremessado da torcida corintiana e faleceu. O pior é que esse caso não é uma novidade (arremessar sinalizadores, rojões e bombas na torcida adversária é uma pratica deprimentemente comum nos estádios brasileiros).

A Conmebol está cautelosa sobre qualquer julgamento precipitado. Aguarda informações mais profundas da Polícia Boliviana. Mas já disse que, dependendo do julgamento, o Corinthians poderia até ser excluído da competição.

Quase impossível de isso acontecer. No máximo, algum tipo de multa, perda de mando de campo ou qualquer coisa assim.

Opiniões e comentários surgem por todas as partes. Na internet, o pior e mais babaca tipo de torcedor comenta o ocorrido através de um viés clubista, expondo toda imbecilidade de sua pobre cabecinha. Outros, mais sensatos, se indignam com o fato, independentemente de qual torcida o tenha causado.

Cogitou-se também que o Corinthians poderia fazer história ao abandonar a competição após o jogo de ontem e mostrar que o time tem uma torcida, nunca o contrário. Seria como assumir uma postura de que, com a moral adquirida de atual campeão, exige um comportamento mais civilizado. Surtiria algum efeito? Dificilmente.

Mas de todos os comentários, o mais infeliz e idiota foi do diretor adjunto de futebol do Timão, o Sr. Duílio Monteiro Alves. “Não tememos punição da Conmebol porque temos convicção de que foi um acidente”. Acidente? Senhor diretor, isso foi um crime, não um “acidente” ou uma “fatalidade”. Homicídio é crime.

Ao arremessar um sinalizador em direção de outra pessoa, mesmo sem a intenção de matar, você está assumindo o risco de matá-la. É exatamente igual dirigir um carro embriagado, atropelar e matar alguém e depois dizer que foi um acidente. Não, foi um assassinato. Portanto, homicídio doloso (com intenção, sim senhor, a partir do momento que se conhece os riscos).

O diretor ainda complementou: “Ainda está tudo muito fresco na memória, mas esperamos ajudar a família de alguma forma”. Ajudar a família é o mínimo.

Qualquer punição dada (perder mando de campo, jogar com portões fechado, ser excluído do torneio) não é tão radical como ir a um estádio de futebol e não voltar. “Ah, mas vai prejudicar os milhares de torcedores inocentes por causa de meia dúzia de criminosos?”, indagam. Esse é o preço por viver em sociedade, as ações de um indivíduo num espaço público ecoam e trazem consequências a todos nesse espaço, sinto muito quem não está pronto para isso. E qual solução melhor? Deixar impune?

Porém é preciso ter cuidados para que isso não vire uma (mais) imbecil e desnecessária guerra clubista e alimente (mais) preconceitos, tão imbecis e desnecessários quanto. Desnecessário também é lembrar que estúpidos estão em todos os lugares e torcidas.

Também é importante deixar claro que a culpa é exclusivamente dos detidos (se assim for provado). Mas sabe o que ajudaria muito? Parar de bancar torcida organizada.

Por que os times ainda dão ingressos para jogos nacionais ou internacionais para torcedores que se consideram superiores ou “mais torcedores” que os “comuns”? Praticamente todos os crimes ocorridos nos estádios partem dessas organizações.

Será que o senhor diretor Duílio Monteiro Alves tem peito pra por isso em pauta? Ou, já que foi um “acidente”, nem há muito com o que se preocupar?