Num silencioso Pacaembu, o Corinthians ganhou com tranquilidade do Millonarios da Colômbia. O placar de 2 a 0 não representa a facilidade com que o Timão ganhou, mesmo jogando em ritmo desacelerado.
O primeiro gol foi marcado por Paolo Guerrero e o segundo por Alexandre Pato. Os dois formaram o ataque titular do Corinthians, já que Jorge Henrique ainda sente dores na coxa e Emerson Sheik vem de más atuações e inúmeros (e já tradicionais) “rolos” fora de campo.
Sheik ainda entrou em campo, mas apenas para apresentar um futebol abaixo do esperado de um jogador do nível dele.
O Pacaembu estava quase vazio.
Quase. Porque quatro idiotas fizeram o uso de uma liminar conseguida na justiça comum brasileira para se enfiarem no estádio. O juiz concedeu a permissão a seis torcedores, mas dois deles foram mais sensatos e educados e atenderam aos pedidos do clube de ficarem em casa.
Os quatro cidadãos que entraram no estádio alegaram que é direito deles enquanto consumidor assistir o jogo, já que compraram os ingressos antes da penalização dada pela Conmebol. Eles apenas estavam fazendo valer seu direito. Que lindo, não?
Mas vamos só lembrar o porquê do estádio estar vazio? Caso os quatro babacas não se recordem, um menino boliviano de 14 anos foi assassinado na quarta-feira passada quando o Timão estreou na competição diante do San José em Oruro, Bolívia. Por isso o clube e a torcida foram punidos a jogar com portões fechados.
“Mas eles não tem nada a ver com essa morte”. Verdade e mentira. Verdade, porque não estavam na Bolívia e nem carregavam o dispositivo que acarretou no crime. Mentira, porque ali no campo eles estavam representando uma torcida e um clube, algo muito maior que seus umbigos (será que esse tipo de cidadão sabe que existe algo maior que seus umbigos?).
Pela lei vigente, eles estão certos. O direito ao consumidor deve ser respeitado (a Justiça não tem nada formalizado sobre “cidadania”, “empatia”, “bom senso”, “luto”, “respeito à memória” ou “direito à vida”). Para isso, precisamos da noção de cada um sobre a sociedade a seu redor. É aí que o bicho pega, pois a Justiça não prevê e nem liga pra isso.
Eles fizeram valer seu direito, portanto. Mas, nas palavras do jornalista Mauro Cezar (ESPN) “fico imaginando se o quarteto que obteve seus 15 minutos de fama é tão aguerrido na luta pelos seus direitos no dia a dia. Ou se eles se preocupam com os direitos do próximo. (…) Sim, pode ser que eu esteja esperando demais de gente que foi incapaz de oferecer algo minimamente nobre, digno, grandioso. Uma pena”.
O estádio deveria estar completamente vazio. E não vamos nos esquecer do motivo.
Ou o Direito do Consumidor é sobreano ao direito do sujeito? Para a justiça comum, é. Mas, e para nós?