Um ano sem Sócrates: a falta que faz um jogador-pensador como ele

Já faz um ano que o Brasil perdeu Sócrates. E quando se perde alguém querido, não dá simplesmente pra tapar o buraco.

Sócrates não foi o maior atleta do país, mas foi um jogador genial. Sócrates não foi o boleiro mais bem sucedido de sua geração, mas pensava o futebol e o esporte e os via como parte integrante de uma sociedade desigual. Não foi o mais vitorioso, mas foi o mais vencedor.

Como poucos (ou nenhum) jogadores, o Doutor entendia que o futebol é mais que um esporte apaixonante. Muito mais que empresas gigantes e cifras milionárias. Mais ainda que um estilo de vida. O futebol é uma metáfora do Brasil e um potencial espaço de mudanças.

Como não se lembrar do maior movimento sócio-desportivo do país, a Democracia Corintiana? Num momento delicado de transição política do Brasil, o time do povo decide mostrar que as decisões podem e devem tomadas pelos “operários” e não pelos “mandachuvas”. Inocente? Romântico? Pode ser, mas, acima de tudo, diferente, indo de encontro à onda de bundamolência que assola nossa sociedade. Sociedade que o criticaria por ser utópico, comunista e pensador.

Pensou o Doutor: “mais importante que partidas, hoje o brasileiro tem que ir às urnas votar”. Nada mais pungente para o momento que vivia o país. E foi mais longe, já assumiu que não trocaria o direito do voto pelo título da Copa de 82.

E mesmo sem esse ou qualquer título pela Seleção, sua geração era próxima do povo. Muito porque o Magrão se recusava a entender o futebol como um circo em que os jogadores são distantes dos espectadores. Quando se direcionava ao povo, não era pra vender algo, era pra somar ideias. E quem venceu no país em que o ouro se ganhou e se perdeu? Amamos Sócrates porque ideias duram mais que títulos.

Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira. O herói civilizador do Corinthians, sócio da filosofia, da cerveja e do suor. Ele não aceitaria que ficássemos chorando por ele, para ele a vida acontece pra frente. Com a elegância de um dançarino pensador, tocaria de calcanhar a nossa dor e nos mandaria sorrir, jogar, ler, escrever poesias, tomar cerveja e, sobretudo, amar. A vida continua e essa é a dura arte de viver.

Arte que ele dominou muito bem. Doutor, eu não me engano, você jamais será esquecido no coração corintiano.

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